quinta-feira, 20 de março de 2008

Two Of Us

(Tudo Entre Nós)
Estados Unidos, 2000


Direção: Michael Lindsay-Hogg
Com: Aidan Quinn (Lendas da Paixão), como Paul McCartney; e Jared Harris (Resident Evil: Apocalipse), como John Lennon
Duração: 89 minutos
Gênero: Drama

Sábado, 24 de abril de 1976. No ar, um dos programas mais populares dos Estados Unidos até hoje, o Saturday Night Live. Na época, corria pelo mundo o boato de que os Beatles se reuniriam novamente, à luz de uma oferta milionária do promotor Sid Bernstein. A proposta não foi aceita, mas aproveitando-se da esperança dos fãs, o apresentador Lorne Michaels fez uma brincadeira e ofereceu 3 mil dólares se os Beatles aparecessem no programa aquela noite e cantassem 3 músicas. Mal sabia ele que naquela noite, Paul McCartney e Linda estavam visitando o apartamento de John Lennon e Yoko Ono em Nova York, próximo aos estúdios e assistiam ao programa. Quase foram lá dar uma palhinha, mas depois, em uma entrevista, John disse que estavam cansados. Se isso faz parte do filme? Claro! O filme é inspirado nisso. E, sim, isso de fato aconteceu. Aliás, a piada de Michaels entrou para a história dos Beatles.

Com grande maestria, o diretor Michael Lindsay-Hogg, fez um filme imaginando como teria sido aquele dia para os dois amigos. É quase uma hora e meia de conversa entre John e Paul. Falando assim, parece até enfadonho, mas ela é muito bem conduzida entre momentos de tensão, descontração, uma rápida ida ao banheiro ou pausas para lembrar uma música e atender Yoko ao telefone, que supostamente viajava com o filho, Sean.

Michael Lindsay-Hogg também dirigiu o documentário Let It Be (1970), que mostrava a rotina dos Beatles já na época da separação. Conhecendo bem o comportamento de John e Paul, Hogg pôde dirigir os atores fazendo com que eles chegassem o mais próximo possível dos gestos e linguagens dos músicos. A semelhança física acaba ficando em segundo plano (quase terceiro). Além disso, o diretor pôde também recriar, com fidelidade, o apartamento de John e Yoko em Nova York.

Apesar de lento, o filme não cansa, pois a conversa nunca pára num tema. De vez em quando os dois discutem, contam piada, cantam uma música, meditam. Quando o ambiente doméstico se esgota, os dois vão passear pelo Central Park disfarçados e comer num restaurante italiano. O modo como o filme foi montado permite que o diálogo seja sempre dinâmico. Algumas hipóteses levantadas na película são bem interessantes para os beatlemaníacos: como os dois amigos tratam os fãs, o ciúme que existe entre eles por causa dos singles, a adoração por Yoko de John, que às vezes nem sabe o sentido do que faz, mas faz mesmo assim por causa dela, a nova carreira de Paul junto à Linda... Enfim, é com certeza um prato cheio para os fãs. E quem não conhece os Beatles, mas gosta de cinema, não sai perdendo, pois o filme é muito bem montado e não dá pra "voar".

Ainda que seja um exercício de imaginação, o filme permite analisar um pouco da história de John e Paul, tanto separadamente, quanto como amigos. Os sentimentos e dúvidas dos dois são explorados ao máximo. Eles se apóiam e se "estapeiam" várias vezes, como se sua relação estivesse em carne viva com o encontro inesperado, já que Paul apareceu sem avisar. Voltando à realidade, John Lennon declarou à imprensa, no dia seguinte à visita: "Não estamos mais em 1956. Eu cresci. Tenho um filho para cuidar. Quando quiser vir, pelo menos telefone antes". Paul seguiu em sua turnê pelos Estados Unidos e os dois nunca mais se visitaram como em 24 de abril de 1976.

Naíza


terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Oliver!

(Oliver!)
Estados Unidos, 1968

Direção: Carol Reed
Com: Mark Lester (Oliver) e Oliver Reed (Bill Sikes)
Duração: 153 minutos
Gênero: Drama/Musical

Uma das adaptações mais aclamadas da obra de Charles Dickens, Oliver Twist. Ganhador de 6 Oscars, Oliver! conta a história do garoto órfão de uma forma menos dramática que o convencional.

A história você já deve conhecer. Um menino orfão, expulso do orfanato, se junta a um grupo de meninos ladrões em Londres. Sem muito talento, acaba preso e aí acontece a grande virada da história. Quem conhece as obras de Dickens, deve sempre se lembrar do caráter crítico de tudo que ele escreveu. Nessa obra, ele expõe o problema da marginalidade provocada pela pobreza a que a sociedade londrina era submetida na era vitoriana.

O garoto que interpreta Oliver é um tanto afetado, sim. Mas talvez seja uma característica do cinema na época. Pelo menos a julgar pelos poucos protagonistas infantis dessa época que eu me lembre (por exemplo, o Charlie, da primeira versão d'A Fantástica Fábrica de Chocolate. Você lembra dele: loirinho, bochechas rosadas... uma leve tendência gay - :XXX). Dá uma certa coceira no juízo, às vezes, mas é totalmente compensado pelas interpretações de Jack Wild (Dodger - na foto de azul), Ron Moody (Fagin) e todo o elenco.

Essa adaptação é menos dramática, sim, mas não deixa a desejar. Sua trilha sonora, sempre muito alegre, é o que provoca esse detalhe, mas também ilumina positivamente a saga. Impossível dizer qual das músicas é a mais divertida ou a mais bonita. E vale comentar também as coreografias. Muito bem boladas!! Até hoje, Oliver! é considerado um dos melhores musicais de todos os tempos. E considerando que foi filmado em 1968... que filme!


Naíza

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

La Science des Rêves

(A Ciência do Sono)
França/Itália, 2006

Direção: Michel Gondry
Com: Gael Garcia Bernal e Chalotte Gainsbourg
Duração: 105 minutos
Gênero: Comédia/drama

Seguindo a trilha de Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembranças, Michel Gondry (dessa vez também como roteirista) traz novamente uma história de conflito psicológico.

Stephane Miroux (Gael) sofre de uma doença em que confunde sonho e realidade. Ao se apaixonar por sua vizinha Stephanie (Charlotte), a doença vai acabar se tornando um problema. Às vezes até você se confunde. Não sabe se ele ainda está no sonho ou não. Isso acaba deixando-o em situações meio constragedoras. Enquanto está sonhando (dormindo ou não), ele é o apresentador de um programa de tv, onde ele pode tudo.

Os responsáveis pela fotografia, desenho e efeitos especiais estão de parabéns. É tudo muito simples, mas tão real e tão bonito... tão poético. Aliás, o filme todo o é. Foi feito pra você achar lindo. Lindo assim: *_*

Gael, como sempre, dá um show. O personagem dele é tão frágil por causa da confusão que se passa na sua cabeça, que chega a parecer uma criança. E também assusta, ao mesmo tempo que comove, a personagem de Charlotte. É difícil lidar com uma pessoa que não sabe se está sonhando ou vivendo. Ela o surpreense várias vezes. São nesses momentos filme que você sente aquela vergonha alheia por Stephane. :// O bixinho...

Mas o ponto alto do filme, além da própria história, que é tocante, é a animação que se faz em alguns momentos do filme. Destaco a cena da destruição e resconstrução da cidade de papelão. É de encher os olhos.

Enfim, é uma obra de arte. Totalmente. O roteiro, as atuações, as animações, os desenhos, a fotografia. E apesar de ser ficção, é inacreditável que isso realmente exista. Mas ah!, se fosse tudo lindo assim...

Naíza

Igby Goes Down

(A Estranha Família de Igby)
Estados Unidos, 2002

Direção: Burr Steers
Com: Kieran Culkin, Susan Sarandon, Ryan Phillippe, Claire Danes, Jeff Goldblum, Bill Pullman e Amanda Peet
Duração: 97 minutos

Filme nada convencional. A vida de Igby é um total tormento. Você acha que tem motivos pra ser rebelde? Ele acha que tem mais, e tem mesmo. Mas dá pra ser rebelde, Igby? Esse filme é instigante... um dos meus favoritos. Não é simplesmente pra você assistir e dizer se é bom ou não. Você vai ficar com ele martelando na sua cabeça durante semanas.

Todas as certezas de um garoto atormentado pela vida, pela família, pela sociedade se transformam em dúvidas, em mais perturbação ainda. Não adianta você esperar por um conflito no meio do filme, porque ele inteiro é um conflito. É genial o modo como Igby condena o padrão de vida exigida pela sociedade. Ele viu o pai ser destruído por ela. É pedir demais que ele entenda que a culpa não foi da sociedade. A mãe é viciada em remédios, o irmão é o exemplo de perfeição, de como Igby deve ser (tem coisa pior pra ser?), o padrinho é um dissimulado, pra mim, ele só ajuda por convenção mesmo, é prestativo e sorridente por convenção, enfim... Por tudo isso, Igby tenta fugir como pode de qualquer educação fornecida pela sociedade. Ele não vai se corromper, vai resistir até o fim. Que se dane sua família, ele não liga! Que se dane tudo, ele não liga! Não? É possível fugir mesmo? É com esse tipo de dúvida que Igby vai se deparar. Os diálogos são brilhantes. As posições de Igby mexem com qualquer um. "Se o céu é tão maravilhoso, por que ser crucificado foi um sacrifício do cacete?", Igby. Daí você tira...

A atuação de Kieran Culkin como Igby é excelente. Engraçado que quem interpreta Igby criança é Rory Culkin (também excelente, apesar da pequena participação), irmão de Kieran (e de Macauley, claro). Redimindo a família, hein?! ^^

Durante toda a saga, você acompanha Igby ser expulso de quase todos os colégios de sua região, fugir da escola militar, ser internado numa clínica de desintoxicação, se divertindo sempre, e depois conhecer uma garota e se machucar por causa dela, se perder na própria identidade, amar e odiar ao mesmo tempo a mesma pessoa, entender que não se conhece e que o mundo não é exatamente como ele pensava. É um filme inteligente e perturbador. Uma perfeita tragicomédia.

Naíza

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

L'Ultimo Bacio

(O Último Beijo)
Itália, 2001
Direção: Gabriele Muccino
Com: Stefano Accorsi e Giovanna Mezzogiorno
Duração: 115 minutos

Se o remake hollywoodiano (The Last Kiss, com Rachel Bilson – Summer de the O.C.) for igualzinho ao original italiano, me parece muito equivocado classificá-lo como comédia. Provavelmente não é igual, porque o papel de Rachel é um dos principais no remake, enquanto no original ele é muito secundário e a garota é bem mais nova também. Aliás, o filme italiano também é classificado como comédia em alguns meios. Mas eu realmente não creio que seja apropriado, nem que tenha sido o objetivo de quem o escreveu. É um drama. Com toques cômicos, mas drama. Provavelmente o diretor americano deve ter enfeitado mais pra se encaixar no gênero comédia-romântica – geralmente descartável, o preferido de seu público. Na Itália, é um drama, como o é de fato na vida.

Quatro homens em crise de meia-idade, identidade, relacionamento, tudo-que-aflige-um- homem-aos-trinta. Eis o tema clichê, mas muito bem descrito neste filme. Quatro perspectivas diferentes sobre o amor que se apóiam, se ouvem, gritam umas paras as outras. Os medos, as ilusões, as convicções. Tudo exposto de modo muito simples e real, sem grande afetação.

O interessante é você perceber como cada um deles vê o amor ou como eles amam sem saber o que é isso (ou não amam, enfim...). E também como, por amor, coisas que para você são imensamente imperdoáveis, se perdoem e as que são simples, se transformem num peso impossível de se levar adiante.

A principal das quatro histórias retratadas no filme, com certeza por ter mais trama, é a de Carlo e Giulia (Fermina Daza de Love In Time Of Cholera). Quando resolvem morar juntos, fazem promessas que os dois acham idiotice até o pensamento de serem quebradas, até, claro, os 30. Carlo acha uma solução muito sensata para não deixar a paixão sair de sua vida e seu relacionamento não acabar: trair Giulia com uma menina de 18 anos. Gênio ele, né?

Adriano vive um casamento de eternas brigas e é o mais inseguro dos quatro. Seu medo de deixar a mulher e o filho é constatemente reiterado por todos. Para mim, é a histórias mais interessante, mas eu tenho que admitir que a de Carlo é mais atraente à massa (igi! Sentiram o desprezo? Não foi de propósito, desculpem). Paolo é atormentado por um amor findo, menos para ele, e toma coragem para viajar e levar Adriano e Alberto com ele, não sem antes tentar convencê-los de que suas vidinhas são descartáveis. Alberto passou a vida de noites tórridas e adeuses. Quando esse tipo percebe que chegou aos 30 (até então ele jurava que tinha uns 20) entra na crise mais cômica. A única. Mas só é cômica porque não é com você (ainda). ^^


Naíza